domingo, 14 de março de 2010

Two Players

Caminho lentamente por uma estrada repleta de buracos, respiro poeira, enfrento mil e um perigos, quero descobrir quem sou.
Penso em coisas sem nexo.
Enquanto o meu corpo fraqueja a minha mente voa para longe, cria histórias irreais.
A minha viagem é complicada, difícil, impossível.
Pelo trajecto derrubo e sou derrubada.
Em meu redor apenas avisto regras, destruição, desfiguramento.
O chão coberto de azulejos simetricamente bem colocados.
Preto, branco, preto, branco..
O céu é cinzento, o ar pesado.
Encontro.me numa batalha épica, onde Damas lutam com guerreiros armados, onde a plebe é sempre inferior e mendiga uma promoção de ascensão, onde Reis se escondem deliberadamente por de trás de inacabaveis muralhas, fortes Torres.
16 poderosas peças olham para mim de frente, analisando cada pedaço do meu ser. Lêem.me a mente. Querem petrificar.me. Juntar.me a colecção.
Acham que tenho de ser domada. Que alguém mais poderoso deve controlar todos os meus passos diagonais , verticais e horizontais.
Encontro.me num verdadeiro tabuleiro de xadrez.
Caminho lentamente, por entre todo aquele caos.
Oiço choros, sinto que muitos querem desistir, ou proclamar empate. Almejam abandonar o local.
Oiço passadas metalizadas , movimentos pesados , gritos de guerra, linguagem trágica.
Oiço pedidos de misericórdia.
Oiço suplicas.
Escondo.me, fecho os olhos e tento ignorar o meu redor.
Melancolia, mágoa... Loucura...
Agarro num papel e concentro.me. Esqueço o alheio e rabisco letras, desenho vocábulos, crio, dou vida a um texto.
Destruo peças, organizo o meu jogo.
Apago a insegurança vivida na minha divisão.
Cavalos e Bispos perfeitamente alinhados, esperam, anseiam ouvir a minha voz. Querem ordens.
H5, B3, D4.
Sou um peão na linha principal, o medo e desespero invadem.me.
Vejo gigantes blocos de mármore a desfazer.se a minha frente.
A minha capacidade de raciocínio fraqueja, a minha concentração é nula. Não me lembro das jogadas.
As peças adversárias continuam em 'en passant' mas isso não chega para ganhar.
64 casas, 32 soldados, são como marionetas, esperam para ganhar vida, questionam o seu destino.
Solto gargalhadas, grito.
É impossível voltares atrás, onde está a tua habilidade e astúcia? 'piece touche piece joue'.
JOGA
O exército oponente desloca.se.
Não vou chegar a acordos, não vou aceitar desistências.
JOGA
Esquece as promoções divinas, nem isso te safa, esquece as voltas atrás , esquece a mudança de quadrado.. XEQUE
Podes parar de te ocultar atrás das tuas tropas.. MATE

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