quarta-feira, 31 de março de 2010

Unreal? Maybe

O meu consciente gosta de brincar comigo. Adora pregar-me partidas. Venera invadir os meus sonhos com as suas tropas.
Cavalos de realidade, soldados de verdade, guerreiros genuínos e arqueiros, todos em conjunto, dão passadas poderosas, prontos para delicerar a minha utopia.
Armas cortantes, peças de artilharia, flechas de sobriedade, atingem, alcançam a minha fantasia.
Poderosos combatentes penetram no meu sono profundo e declaram uma batalha à mão armada com o meu sub-consciente.
O meu plano mental inferior prepara um contra-ataque, as minhas tropas deixam de ser moderadas, temperadas e passam repentinamente da defensiva à ofensiva.
Imaginação, ficção, espirito, pensamentos - forma-se o meu corpo de infantaria.
Trava-se uma peleja de ideias.


quarta-feira, 17 de março de 2010

Navegar

Em tempos disseram-me que a inspiração é que nos procura. Espero pacientemente para que alguma ideia entre em mim... Mas nada... Nada de grandes fontes de criatividade, nem de poderes inacabaveis de criação.
Olhando para este ecrã apenas divago, penso naquilo que posso vir ou não a escrever, mas nada me agrada. Não gosto de falar de mim, muito menos expor aquilo que sou..
Enfim...
A minha escrita sempre revelou o que penso e neste momento não me sinto com cabeça para encher de palavras este fundo sem cor, este papel virtual.
Não consigo criar um cenário, não possuo capacidade para dar existência a pessoas fictícias, nunca vou gerar uma obra literária.
Sinto-me a navegar num mar sombrio, à deriva no desgosto, cada onda que me ataca é uma chapada de mentiras, de ilusões. Sou envolvida pela sombra total. Como uma manta fria que me aperta, destrói, sufoca. Gelo num mar profundo, afogo-me em desilusões.
Cada dia que passa sinto a minha mente mais perto da loucura, paranóia que cresce em simultâneo com a insanidade.
Recordações são feridas que nunca vão sarar, são dores e lágrimas eternas.
Uma parte de mim renega sonhar, tem consciência de que os sonhos são inconsciência pura.

domingo, 14 de março de 2010

Two Players

Caminho lentamente por uma estrada repleta de buracos, respiro poeira, enfrento mil e um perigos, quero descobrir quem sou.
Penso em coisas sem nexo.
Enquanto o meu corpo fraqueja a minha mente voa para longe, cria histórias irreais.
A minha viagem é complicada, difícil, impossível.
Pelo trajecto derrubo e sou derrubada.
Em meu redor apenas avisto regras, destruição, desfiguramento.
O chão coberto de azulejos simetricamente bem colocados.
Preto, branco, preto, branco..
O céu é cinzento, o ar pesado.
Encontro.me numa batalha épica, onde Damas lutam com guerreiros armados, onde a plebe é sempre inferior e mendiga uma promoção de ascensão, onde Reis se escondem deliberadamente por de trás de inacabaveis muralhas, fortes Torres.
16 poderosas peças olham para mim de frente, analisando cada pedaço do meu ser. Lêem.me a mente. Querem petrificar.me. Juntar.me a colecção.
Acham que tenho de ser domada. Que alguém mais poderoso deve controlar todos os meus passos diagonais , verticais e horizontais.
Encontro.me num verdadeiro tabuleiro de xadrez.
Caminho lentamente, por entre todo aquele caos.
Oiço choros, sinto que muitos querem desistir, ou proclamar empate. Almejam abandonar o local.
Oiço passadas metalizadas , movimentos pesados , gritos de guerra, linguagem trágica.
Oiço pedidos de misericórdia.
Oiço suplicas.
Escondo.me, fecho os olhos e tento ignorar o meu redor.
Melancolia, mágoa... Loucura...
Agarro num papel e concentro.me. Esqueço o alheio e rabisco letras, desenho vocábulos, crio, dou vida a um texto.
Destruo peças, organizo o meu jogo.
Apago a insegurança vivida na minha divisão.
Cavalos e Bispos perfeitamente alinhados, esperam, anseiam ouvir a minha voz. Querem ordens.
H5, B3, D4.
Sou um peão na linha principal, o medo e desespero invadem.me.
Vejo gigantes blocos de mármore a desfazer.se a minha frente.
A minha capacidade de raciocínio fraqueja, a minha concentração é nula. Não me lembro das jogadas.
As peças adversárias continuam em 'en passant' mas isso não chega para ganhar.
64 casas, 32 soldados, são como marionetas, esperam para ganhar vida, questionam o seu destino.
Solto gargalhadas, grito.
É impossível voltares atrás, onde está a tua habilidade e astúcia? 'piece touche piece joue'.
JOGA
O exército oponente desloca.se.
Não vou chegar a acordos, não vou aceitar desistências.
JOGA
Esquece as promoções divinas, nem isso te safa, esquece as voltas atrás , esquece a mudança de quadrado.. XEQUE
Podes parar de te ocultar atrás das tuas tropas.. MATE

Eu

A minha escrita é repetitiva.
Rasgo folhas, rascunhos, em busca do texto, da poesia perfeita.
Ando constantemente à procura da palavra chave que vai desenrolar, que vai desenvolver, dar acção, melodia e sentimento à prosa. Aplicando dor aos vocábulos, escrevo sobre guerras épicas, ódio, amores trágicos e ilusão. Falo de criaturas místicas, possuidoras de uma crueldade infinita.
Redijo sempre com o inconsciente.
Pretendo transmitir sensações, fazer sentir emoções. Quero ouvir choros.
Torturo o meu cérebro, quero arrancar o irreal e transformá-lo, moldá-lo, em possíveis doutrinas, formas expressivas.
Adoro magoar as letras.
Bato-lhes. Quero que captem com urgência todos os meus pensamentos, todas as minhas ideias. Quero que formem com rapidez um texto simbólico.
Mutilo todos os erros e construo termos metaforicamente perfeitos.
O sangue das promessas verbais é a tinta da minha caneta, as minhas frases são o espelho, o reflexo da sua dor.