quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Nada

Sinto-me tão vazia. Há muito tempo que espero na Estação da Incerteza, por um comboio que tem como destino o Irresoluto. O vento bate-me na cara, traz consigo receios, temores. Crava em mim medos tão profundos.
Vejo sombras no chão, na parede. As fracas luzes da paragem, começam a falhar. Piscam repetidamente, até perderem a força. O frio instala-se.
Aconchego-me ao meu agasalho e arrastando a minha mala, dirijo-me a um café.
Sento-me numa cadeira dura, desconfortável. O assento que já suportou o peso de outros Pensadores.
Retiro as luvas, e educadamente, peço um chá quente. 
Odeio todo este ambiente de espera. Todo este tempo perdido. 
Olho, sem grande reacção, para a mesa, moldo guardanapos, crio formas com o papel. 
Bato com os dedos na madeira, crio ritmos, batidas, imagino o teclado de um piano, o ..
Uma senhora gordinha, vendo o meu estado insano, coloca rapidamente o bule de ervas aromáticas à minha frente.
"Beba querida, vai fazer-lhe bem aos nervos"
Mas quais nervos? Qual frenesim? Qual cólera?
Seguro a chávena com ambas as mãos, aqueço-as. O vapor torna a dar cor à minha face.
Deixo que aquele aroma adocicado, me envolva numa dança suave. Agarro-me ao Nada, dou-lhe a mão, deixo que me conduza, que baile no meu pensamento...
Oiço as carruagens lá fora, oiço multidões, oiço gentes aos beijos, oiço juras de amor, oiço pedidos de perdão, oiço choros, oiço suplicas...
De olhos fechados, tento desviar-me de todos aquele ruídos, concentro-me no Vazio e levo a taça à boca. 
O líquido queima-me os lábios. Aquece-me o interior. É uma sensação de Borboletas no Estômago. 
Uma impressão de paixão.
Estou embriagada nas minhas alucinações, no meu amor por ti.


2 comentários:

  1. Hello, gostava de dizer que estou onde queres que esteja, gostava muito de estar numa mesa perto da tua, olhar para ti, cantar-te, & say "Hello" ou vir perdido na mesma rua de onde vieste, com a minha guitarra, o cachecol preto, as mãos geladas...
    Receber o calor do teu chá.

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